Compota de Pérolas

para barrar na mente

Wednesday, September 21, 2011

Twenty

E ontem senti-me novamente com 20 anos.
Ou melhor, ontem senti o que sentia quando tinha 20 anos.
Ontem fiz uma viagem ao passado projectando-me no caminho do futuro.

Há botões de "reset" nos quais temos de carregar de vez em quando para renascer.
Ontem, com sorte, consegui carregar num deles. E bem estava a precisar.
Estava a precisar de ir beber à fonte novamente. Estava a precisar recordar que o que defendo é válido, é a sério, é concreto, e não uma ideia vaga que se vai desvanecendo com o tempo e com a idade. Ontem percebi novamente que os valores vieram para ficar. E tenho orgulho neles.

A música tem um papel muito importante nesta criação de valores e objectivos. Principalmente quando ainda estamos a descobrir a nossa personalidade. Principalmente numa fase adolescente em que estamos com o sangue todo na guelra e queremos mostrar ao mundo que também já somos alguém. Alguém com voz.

Tem piada ver como as músicas daqueles que consideramos génios das mensagens nas letras evoluem ao longo do tempo, encontrando novas formas de passar as ideias, de mostrar o seu interior e os problemas que os preocupam. E tem piada ver como conseguimos acompanhar esse movimento. Afinal de contas, da mesma forma que as músicas foram andando para a frente, também nós nos fomos formando mentalmente.

E ontem, voltei aos 20 anos. Não estou igual mas estou parecido. Continuo a defender as mesmas coisas. A algumas dou-lhes menos importância, com outras sou mais intransigente e exigente. Respiro o mesmo ar. Ontem carreguei no "reset" e renasci para mais uma caminhada. Para mais 20 anos, ou 40 ou 50. Venha de lá esse horizonte!

no copo: água fresca
no iPod: Got Some (Pearl Jam)

Tuesday, September 20, 2011

Não há dinheiro mas há palhaço

Cada dia que passa vemos mais contas a aparecer.

Há duas caixas que nos trazem uma quantidade de notícias que nos fazem chorar ou rir. Uma é a caixa do correio (onde ainda hoje me chegou correspondência que mais valia ter-se perdido!), outra é a caixa mágica à qual chamamos televisão.
E eu sempre pensei que a televisão, quando foi inventada, foi para nos entreter. Ora os tempos mudaram tanto que a TV começa a ter pouco de entretenimento.
Parece-me que entretenimento é algo que acontece durante um espaço de tempo em que as pessoas estão, claro está, entretidas. Findo esse tempo, as pessoas deixam de estar entretidas e passam a estar ocupadas.
Ora pelo que vejo, as pessoas estão sempre ocupadas. Estão ocupadas a tentar perceber como é que acontece o que acontece. E depois estão ocupadas a discutir o que acabaram de perceber.

O telejornal, que cada vez mais se quer parecer com um programa de entretenimento (com intervalo e tudo, e chamadas de temas que vão ser noticiados dali a alguns minutos), tem o papel mais importante da televisão. Mostrar às pessoas o que se passa no mundo e deixá-las a pensar.

Acredito que eu não seja o único a pensar nisto - até porque não seria viável para qualquer negócio que eu fosse a única pessoa a estar atenta ao que se passa - mas o que vejo diariamente no telejornal é mais qualquer coisa que foi descoberta e sobre a qual ninguém sabia de nada até àquele momento. Claro que já haveria concerteza pessoas a saber do que se estava a tratar, mas as coisas estavam de tal forma escondida que nem as investigações habituais conseguiram descobrir (o que me leva a crer que exista uma grande quantidade de investigadores que deveriam ter escolhido outra profissão).

E outra profissão era exactamente aquilo que eu e mais uns quantos portugueses gostaríamos de ter.
Parece-me que poderia ter tirado qualquer curso na universidade que o resultado seria o mesmo. Profissão: Palhaço!

Eu sempre ouvi dizer: "não há dinheiro, não há palhaço".
Mas o que vejo é que o dinheiro é constantemente uma variável ausente e os palhaços são cada vez em maior número.
Adivinhem lá, apesar de se dizer tudo o que se tem dito e reprovado o buraco das contas na Madeira, quem é que vai pagar mais esta conta?
Serão os Palhaços, nós.
Mais uma vez vamos estar para aqui a brincar ao palhaço pobre e ao palhaço ainda mais pobre, a fazer malabarismos sem rede e a esticar a corda até à exaustão só para que essa mesma corda um dia nos ameace com um nó ao pescoço.

Pensei que os palhaços existiam para nos fazer rir, mas afinal existem para nos fazer pensar.


no copo: mantenho o vinho de Tomar
no iPod: Triptico (Gotan Project)

Saturday, September 10, 2011

Parabéns pelo cozido à portuguesa!

Caramba, estava na hora de cá voltar!

Nem de propósito o que me leva a escrever são as 7 Maravilhas da Gastronomia de Portugal.

Eu gosto de comer. Gosto do ritual da mesa. Gosto de ficar horas na conversa e da comida ficar fria. Gosto de dar uma garfada e sentir os sabores ao som das palavras de quem está comigo à mesa. E é por isso mesmo que escolho com quem me sentar à mesa. Um amigo disse-me há alguns anos uma coisa que nunca mais me esquecerei. E, em boa verdade, comecei a usar para mim também.

- Quem vai ao almoço? – perguntou ele.
- Bom, vou eu, vai também A, B, C e D...
- Epá, se fossemos só nós e A e B, eu iría, mas assim prefiro ir nadar. A hora do almoço e o próprio almoço é muito importante para ser desperdiçado com qualquer pessoa. Vou dar umas braçadas!

E antes de ele ir dar as braçadas, demos um abraço. E aquilo ficou-me.

E agora, que estou a jantar sozinho e a ter como companhia as 7 Maravilhas da Gastronomia de Portugal, nasceu-me água na boca mas também água nos dedos. E a fome dos dedos estou a matá-la a escrever.

Pelo nome, parece-me que a ideia seria identificar as maravilhas da gastronomia nacional. E se bem que o nome assim o indica, pelo que tenho visto nas palavras de quem saiu vitorioso, parece-me que o que está em competição não são os pratos mas sim as regiões.

É quase uma competição de chefs de vários restaurantes em que não é prato que está em competição mas sim as cozinhas. É quase um pretexto para rivalizar novamente o Norte e o Sul, o Alentejo e o Algarve. É uma luta de feudos em vez de uma conquista da nação.

Eu estou a comer umas bifanas feitas maravilhosamente pela minha avó. Tenho a sorte de ela ainda estar connosco e tenho a sorte de ela cozinhar maravilhosamente bem. E para mim é-me completamente indiferente se ela nasceu em Lisboa ou se aprendeu a cozinhar em Coimbra e apurou o talento perto de Serpins. O importante é que a minha avó cozinha muito bem, tem pratos irresistíveis, temperos fantásticos, etc...

Acho que Portugal devia olhar para si mesmo tal como eu olho para minha avó. Com amor, carinho e agradecimento por tudo o que ela me mostra e me ensina. Agrada-me dar-lhe os parabéns por cozinhar muito bem e pelos pratos que faz: pela cataplana, pelo arroz de marisco, pela caldeirada e pelo cozido à portuguesa; pelo grão com mão de vaca, pela carne assada e pela jardineira... E acho que devíamos agradecer o Leitão da Bairrada e as Tripas à Moda do Porto, não tão só às regiões mas sim a Portugal. E confesso, tenho a sorte de já ter viajado bastante e não há comida como a nossa... nem como a da minha avó! Só batida pela comida da minha mãe!

E com esta me vou...
Vou atacar a sobremesa!


No copo: vinho feito pelo meu padrinho em Tomar
No iPod: É uma casa portuguesa (novamente)