Protector
Há alguma luz no fundo do túnel.
Diz-se que essa luz é, normalmente, um comboio na direcção oposta à qual nos deslocamos e que, naturalmente, vem contra nós. A seu tempo se verá.
Mas tenho uma eterna esperança no Homem. Tenho a esperança que, em pequenos gestos quotidianos, a Humanidade consiga dar a volta por cima e sorrir, se não todos os dias, pelo menos mais vezes por dia.
E digo dar a volta por cima porque claramente me parece que estamos a dar a volta por baixo. Como se em vez de passarmos por cima das ondas para fugir à rebentação estivessemos exactamente a mergulhar para fugir à espuma e a levar, consequentemente, com a corrente que nos embrulha e nos empurra exactamente para baixo... e, também claramente (talvez não tanto claro como a água, é preciso olhar com mais atenção), não temos garrafas de oxigénio.
Mas dizia eu que os pequenos gestos quotidianos podem fazer a diferença.
O exemplo mais recente na minha memória é de um carro estacionado correctamente a ser rebocado porque havia necessidade de arranjar o passeio.
Claro que me podem perguntar: "Será que estava mesmo bem estacionado?"
E eu respondo: "Não, não estava mesmo bem estacionado. Tinha duas rodas em cima do passeio. E toda a gente sabe que rodas em cima do passeio (quer do lado direito, quer do lado esquerdo de uma rua com um só sentido) é sinal de prevaricação."
E estava então o carro com as duas rodas do lado esquerdo (pior ainda! se fosse do lado direito a coisa talvez passasse) em cima do passeio.
E, agora é que a coisa acontece: O condutor não reparou, na ocasião em que estacionou, num papel colado com fita cola na porta de um prédio mesmo em frente onde tinha estacionado.
Ora, claro que qualquer condutor deve sempre ler os papeis colados nas portas dos prédios em frente ao sítio onde estacionam, não vá lá estar uma mensagem para eles em vez de, raramente, serem mensagens para os moradores desses mesmos prédios.
Colado na porta do prédio estava então um papel impresso e colado com fita cola: "Passeio em Obras".
Longe vai o tempo em que quando havia necessidade de arranjar passeios se colocavam uns ferros nesse mesmo passeio com fitas listadas encarnadas e brancas em que havia, ai sim, nessa fita, um papel colado com a mensagem "Passeio em Obras".
O resultado esperado quando o condutor não olha para a porta do prédio é, naturalmente, ver o seu carro rebocado.
Uma pequena ajuda, caso não se tenha reparado em qualquer papel, é, mesmo que não se precise do carro, ir vê-lo todos os dias. Nunca se sabe se o carro pode ser rebocado e o condutor não se aperceber.
Por exemplo, hipoteticamente, o contudor estacionar num dia, o carro ser levado no dia seguinte e, como a pessoa não precisa do carro nos dias seguintes, só se aparceber que o carro já lá não está alguns dias depois. Resultado: três dias de parque de estacionamento do município.
Nota: ninguém da polícia avisa o condutor de que o carro, apesar de estacionado "legalmente" (entre aspas, porque apesar de não impedir a passagem normal de veículos e peões estava com duas rodas em cima do passeio), foi rebocado porque havia necessidade de arranjar as pedras do passeio.
Esta é a mais recente memória.
Mas hoje renasce uma luz de esperança (o que não é de todo espectável visto os dois posts anteriores denotarem alguma indignação).
Hoje, à tarde, passei em frente a um prédio que ia começar com obras da fachada (atenção, não são obras "de" fachada mas sim "da" fachada), e vi um homem colocar plásticos enormes em cima dos carros que circundavam o pequeno prédio de quatro andares.
E isto acho que é relevante para a luz no fundo do túnel. Para o sentimento de esperança.
Sem avisar que as obras no prédio iriam começar, os condutores foram protegidos pelo sentimento de cidadania e civismo.
Não que o plástico protector fosse impedir pedras grandes de cair do prédio, mas, pelo menos protege os carros de pó e pedras mais pequenas que possam riscar a pintura.
Custa alguma coisa?
no iPod:
ainda "I Believe in Miracles"
0 Comments:
Post a Comment
<< Home