Compota de Pérolas

para barrar na mente

Monday, September 29, 2008

“Se entrasse, era golo!”

Eu não gosto particularmente de futebol.
Antes pelo contrario, até nutro um sentimento negativo em torno do “nosso” desporto rei.
E talvez por isso me ria tanto quando assisto a uma partida de bola.

Ver um jogo de futebol num café é como assitir ao relato na radio mas através dos olhos. O exagero das pessoas quando a bola passa claramente ao lado da baliza. Quando um jogador (é indiferente se é o da nossa equipa ou da adversária) sofre, ou provoca, uma falta. Quando um passe falha, quando o remate é frouxo. Quando se perde a bola no meio-campo, ou na defesa. Ou quando, no ataque o jogador se deixa antecipar pela defesa adversária. Os comentários e os gestos são tão característicos que, em boa verdade, nem era necessário olhar para a televisão para perceber o que se passa.

De costas para a televisão olho para as pessoas sentadas nas cadeiras do café como se se tratassem de bancadas.
Um gesto característico chama-me a atenção:

Um homem, ligeiramente irritado, atira o braço para frente (como se estivesse a mandar alguém embora), vira a cabeça para o lado e olha por baixo desse mesmo braço – claramente o “seu” jogador falhou o remate à baliza.

Depois outro homem levanta os ombros e os braços e deixa-os cair na mesa, e roda a cabeça para o lado – o “seu” jogador acabou de falar um passe.

Uma mulher, com o dedo indicador em riste à frente do nariz, mostra-se irritada a falar para a televisão – sinal de que estavam a filmar o jogador da equipa adversária depois deste ter sofrido falta do “seu” jogador.

Um homem coloca os dois braços para a frente, com as palmas das mãos viradas para cima e levanta os ombros – o “seu” jogador não viu que a melhor forma de atacar era pelo flanco contrario.

E acabo por ver o jogo todo sem nunca ter tido necessidade de olhar para a televisão.
E também conseguiria ver mesmo que fechasse os olhos.

- “Aiiiii, Shhhhhhhh, ahhhhhhhh” (um ataque quase concretizado e que termina em pontapé de baliza)

- “Uuuuuuuiiiiiiii” (ataque que termina também com pontapé de baliza, mas que foi mais eficaz a enganar a defesa)

- “Ia lá…. Ia mesmo lá!!!!” (O guarda-redes consegue defender, em segurança, o remate do “nosso” jogador)

- “Olha futeboool, olha futebooooll!!” (a “nossa” equipa a fazer passes certeiros)

- “Uffffffff” (a equipa adversária remata ao lado muito perto da baliza)

- “Eheh eheeeeeeehh ehhhhheeehhh” (a equipa adversária remata ao lado muito longe da baliza)

- “Estava lá, estava lá…. É para isso que ele lá está!!!” (o “nosso” guarda-redes faz uma grande defesa – e não interessa se é em segurança ou se atira para canto)

E esta é a minha preferida. A melhor de todas. O cúmulo do conhecimento e do raciocício. Só quem anda nisto há anos é que consegue dizer esta frase. Quem não vê bola desde pequenino até tem vergonha de a dizer. É simplesmente brilhante. Esta frase é só para coneseurs:

- “Se entrasse… era golo!!”


No iPod:
Partida de Futebol - Skank

Monday, September 22, 2008

Protector

Há alguma luz no fundo do túnel.
Diz-se que essa luz é, normalmente, um comboio na direcção oposta à qual nos deslocamos e que, naturalmente, vem contra nós. A seu tempo se verá.

Mas tenho uma eterna esperança no Homem. Tenho a esperança que, em pequenos gestos quotidianos, a Humanidade consiga dar a volta por cima e sorrir, se não todos os dias, pelo menos mais vezes por dia.

E digo dar a volta por cima porque claramente me parece que estamos a dar a volta por baixo. Como se em vez de passarmos por cima das ondas para fugir à rebentação estivessemos exactamente a mergulhar para fugir à espuma e a levar, consequentemente, com a corrente que nos embrulha e nos empurra exactamente para baixo... e, também claramente (talvez não tanto claro como a água, é preciso olhar com mais atenção), não temos garrafas de oxigénio.

Mas dizia eu que os pequenos gestos quotidianos podem fazer a diferença.
O exemplo mais recente na minha memória é de um carro estacionado correctamente a ser rebocado porque havia necessidade de arranjar o passeio.

Claro que me podem perguntar: "Será que estava mesmo bem estacionado?"
E eu respondo: "Não, não estava mesmo bem estacionado. Tinha duas rodas em cima do passeio. E toda a gente sabe que rodas em cima do passeio (quer do lado direito, quer do lado esquerdo de uma rua com um só sentido) é sinal de prevaricação."

E estava então o carro com as duas rodas do lado esquerdo (pior ainda! se fosse do lado direito a coisa talvez passasse) em cima do passeio.
E, agora é que a coisa acontece: O condutor não reparou, na ocasião em que estacionou, num papel colado com fita cola na porta de um prédio mesmo em frente onde tinha estacionado.

Ora, claro que qualquer condutor deve sempre ler os papeis colados nas portas dos prédios em frente ao sítio onde estacionam, não vá lá estar uma mensagem para eles em vez de, raramente, serem mensagens para os moradores desses mesmos prédios.
Colado na porta do prédio estava então um papel impresso e colado com fita cola: "Passeio em Obras".

Longe vai o tempo em que quando havia necessidade de arranjar passeios se colocavam uns ferros nesse mesmo passeio com fitas listadas encarnadas e brancas em que havia, ai sim, nessa fita, um papel colado com a mensagem "Passeio em Obras".

O resultado esperado quando o condutor não olha para a porta do prédio é, naturalmente, ver o seu carro rebocado.
Uma pequena ajuda, caso não se tenha reparado em qualquer papel, é, mesmo que não se precise do carro, ir vê-lo todos os dias. Nunca se sabe se o carro pode ser rebocado e o condutor não se aperceber.
Por exemplo, hipoteticamente, o contudor estacionar num dia, o carro ser levado no dia seguinte e, como a pessoa não precisa do carro nos dias seguintes, só se aparceber que o carro já lá não está alguns dias depois. Resultado: três dias de parque de estacionamento do município.

Nota: ninguém da polícia avisa o condutor de que o carro, apesar de estacionado "legalmente" (entre aspas, porque apesar de não impedir a passagem normal de veículos e peões estava com duas rodas em cima do passeio), foi rebocado porque havia necessidade de arranjar as pedras do passeio.

Esta é a mais recente memória.

Mas hoje renasce uma luz de esperança (o que não é de todo espectável visto os dois posts anteriores denotarem alguma indignação).
Hoje, à tarde, passei em frente a um prédio que ia começar com obras da fachada (atenção, não são obras "de" fachada mas sim "da" fachada), e vi um homem colocar plásticos enormes em cima dos carros que circundavam o pequeno prédio de quatro andares.

E isto acho que é relevante para a luz no fundo do túnel. Para o sentimento de esperança.

Sem avisar que as obras no prédio iriam começar, os condutores foram protegidos pelo sentimento de cidadania e civismo.
Não que o plástico protector fosse impedir pedras grandes de cair do prédio, mas, pelo menos protege os carros de pó e pedras mais pequenas que possam riscar a pintura.

Custa alguma coisa?


no iPod:
ainda "I Believe in Miracles"

Atras(ad)os

Inacreditável!

Os 50 metros finais de uma grande rua é, desde há dois dias, reservada para BUS.
50 metros, mais ou menos.
50 metros que antecedem um semáforo.
E é importante que sejam 50 metros para se perceber a forma como estes 50 metros vão agora resolver todo o trânsito de uma rua de quase 800 metros (não medi a distância exacta!)

Agora, antes dos 50 metros, os carros têm de virar à direita, seguir até meio de outra rua (cerca de 100 metros de uma rua que rondará os 200), virar à esquerda num entroncamento ligeiramente inclinado e de visibilidade difícil, seguir por outra rua (cerca de 100 metros) até um novo semáforo que, sublinhe-se, demora mais tempo a ficar verde e/ou intermitente (caso se queira seguir em frente ou virar à direita - proibido virar à esquerda), para poder seguir pela estrada onde há cerca de dois dias atrás poderia fazer em cerca de 50 metros sempre em frente.

Agora, para ter uma faixa de 50 metros para BUS, o resto dos carros que circulam na cidade têm de fazer 200 metros. A matemática é, novamente simples: Para uns fazerem 50 metros sem atrasos, os outros são obrigados a dar uma volta de mais 150 metros (além dos 50 que já teriam de fazer de qualquer modo...).

No início desses 50 metros estava, hoje (mais à frente perceber-se-á que noutros dias também havia), um agente da polícia que se colocava no meio da estrada a indicar aos carros que tinham de virar à direita. Estacionado na curva estava um smart amarelo, branco e preto, com os pirilampos (amarelos - que indicam baixa velocidade). Encostado ao carro estava um outro homem (também vestido de azul mas sem nada que indicasse uma farda).
Na porta do carro lia-se "Vigilância dos Corredores BUS". Quem era este senhor de azul? É um Inspector da Carris, que faz parceria com um agente da Polícia Municipal (o que estava fardado no meio da estrada a dar indicações).

Ou seja, verifica-se aqui a presença de forças de autoridade para verificar se os corredores BUS são usados apenas pelos veículos devidos ou se há algum aproveitador destes 50 metros de circulação.

E, agora, cereja no topo do bolo!

Quando eu estava a passar, a pé, nessa rua, porque fui ao multibanco verificar se já tinha sido feito um pagamento que deveria ter acontecido há um mês e meio (e não, ainda não foi pago! - talvez amanhã, disseram-me há bocado), ouvi dois senhores à porta de uma papelaria a falar:
- "Eles agora saem daqui e sabe para onde é que vão?" - pergunta um, sabendo já da resposta.
- "Não, vão para onde?" - responde o outro, não fazendo a mínima ideia.
- "Vão aqui por trás, até aquele entroncamento, dão a volta e vêm pôr-se ali à frente do semáforo, escondidos do lado direito, a ver quem é que passa por aqui pelo BUS". - reponde o primeiro, mostrando que não é a primeira vez que isto acontece.



Perguntas simples:

- Quem é que teve esta ideia luminosa de colocar um corredor de 50 metros para BUS quando antes a estrada era para todos e agora obriga os restantes condutores a dar uma volta de 200 metros e com um semáforo ainda mais lento que o primeiro?

- Será que é assim que se vai resolver o problema de trânsito?

- Será que é um problema de trânsito que se pretende resolver? Será que não vai aparecer outro problema?


E uma questão em forma de pensamento do dia:
- Será que colocar mais uma vez as autoridades escondidas à espera de algum incumprimento não é mais do que o reconhecimento que o incumprimento terá lugar porque a lei não faz sentido?


no iPod:
I Fought The Law - Tha Clash
I Believe in Miracles - Ramones


ps: (adenta, várias horas depois de ter publicado este post) passei pelo início da rua onde encontrei um sinal permitindo apenas a passagem de "Trânsito Local". Ou seja, esta rua, além de estar restrita ao trânsito local tem, dentro dessa mesma rua, um espaço reservado apenas aos transportes públicos. Brilhante!

Dia Europeu Sem Ca(rr)os

Eu, que até sou a favor, sinto-me insultado!
Ninguém para indicar que estradas e ruas é que vão ser cortadas. Nenhum anúncio de alerta aos cidadãos. Ninguém para fazer correr o trânsito (excepto o agente que estava na Praça da Figueira que me disse que eu teria de ir até ao Cais do Sodré e subir para o Bairro Alto até ao Principe Real para poder entrar na Avenida da Liberdade – e, por falar em liberdade, tomei a liberdade de verificar online de quantos quilómetros estavamos a falar e são 5,5 km)

Ou seja, 5,5 km extra no meio do trânsito, com semáforos encarnados, centenas de carros canalizados para o mesmo sítio - ou desordenados pela falta de policiamento no local e aviso prévio das ruas cortadas por pinos cor-de-laranja espalhados nas ruas - às 8h30 da manhã quando se está atrasado para o trabalho.

Eu, que até sou a favor do Dia Europeu Sem Carros, sinto-me insultado pela falta de pudor da autoridade, pela sua falta de respeito pelo cidadão, pela displicência mostrada ao trânsito.

Pergunto por que razão há-de alguém querer aderir ao Dia Europeu Sem Carros. A matemática é simples: sempre que existe este avivar de consiência ambiental, a cidade fica caotica. Mas por que razão é que há-de alguém defender os dias verdes quando estes só trazem caos à cidade?

Não será melhor alertar as pessoas de outra maneira? Não será melhor simplesmente alertá-las para o que está a ser pensado fazer em determinados dias comemoratívos? Não será melhor mostrar às pessoas o que vai acontecer para que a cidade não caia na confusão por desconhecimento?

Eu, que até sou a favor destas medidas e da consciencialização das questões ambientais, sinto-me insultado pelas autoridades e por quem decidiu fazer desta segunda-feira, 22 de Setembro de 2008, a manhã caótica à qual acabei de assistir.

Podem dizer-me que “pelo menos, fez-se alguma coisa em prol do ambiente”. Pois eu respondo: Não há nada que atrapalhe mais as causas e o seu objectivo, do que aqueles que querem mostrar que se preocupam pelas causas…


no rádio do carro: “What a Wonderfull World” – Louis Armstrong

Sunday, September 07, 2008

E! Entertainment

Os olhos falam sempre mais do que as palavras.

Há corpos nas praias.
Não estou a falar dos que aparecem a boiar (não porque as pessoas estejam a descansar depois de umas braçadas, mas porque alguém lhes adicionou chumbo ao peso corporal - ou dos que têm pequenos cortes em forma de cutelo).
Estou a falar de corpos de fato de banho. De biquini ou calções. Deitados nas toalhas, de oculos escuros a olhar para os outros corpos. Analisando, pensando. E, de vez em quando, olhando para dentro e para as suas formas.
É assim que se está na praia.
Por que estou a falar disto?
Bom, além de me apetecer, falo disto porque estou a ver um programa no canal E! Entertainment, que se chama "The Best & Worst Beach Bodies".

Claro que o tempo de praia em Portugal já terminou e a questão pode colocar-se: "Será que este ano alguma vez começou?"
E a resposta é simples. Com uma época balnear como a que tivemos cada ida à praia era um tiro de sorte. Há duas semanas um amigo meu foi à praia num domingo de Sol e acabou por lá ficar duas horas porque o tempo fechou, caiu orvalho e instalou-se o frio.

Ora um Verão destes, como o nosso cá em Portugal, era o necessário para o programa que está a dar na E! Entertainment. Ou melhor, era o necessário para as pessoas que são alvo do programa. É que com este Verão, as pessoas são livres de ir de biquini e calções e acabar por ter de vestir camisolas sem que ninguém diga que estão a esconder gordura mal-vinda.

Oiço a voz off do programa e percebo que um actor consagrado como o Val Kilmer acabou de ser alvo de uma piada: "Aquele que fez de Batman, faz agora de fat-man".
É um trocadilho engraçado. Num programa como este não pensei que alguém tivesse imaginação para fazer este tipo de piada mas fui outra vez surpreendido com outra piada (até porque mostraram também uma foto de Kilmer à beira da água com um fato de surfe): "Já não consegue fazer de Batman mas pode fazer de Pinguim!"

Mas num programa opinativo como este também aparecem advogados(das) de defesa e há quem diga: "Por mim ele pode ficar como está! Faço da barriga dele a minha almofada só para poder ficar a olhar para aqueles olhos!"

E, cereja no topo do bolo, há uma pessoa cujo corpo é o Melhor e o Pior da praia. Janet Jackson ora está com um corpo fantástico ora está um pequeno cachalote e, por isso, compete nas duas categorias.

Fico sem perceber o grau de entretenimento do programa. Da mesma forma que serve de chacota também serve de idolatração. E tem piada como o olhar para os outros nos pode fazer sentir mais confiantes ou mais inseguros. Ao mesmo tempo que batemos palmas ao talento da Natureza também apontamos o dedo a quem foi mais descuidado. Como se uns tivessem nascido com sorte e outros tivessem de ser castigados violentamente pelo seu azar. Olhar para as celebridades e verificar as suas falhas. Ver a suposta realeza social com problemas mundanos. Tem piada apontar o dedo e dizer que afinal são pessoas normais, que têm o rabo grande ou celulite. Tem piada mas não tem graça nenhuma.

Agora vai começar um programa que se chama "25 Mais Elegantes"

Ahh sim, passou quase um ano desde o último post. Eu também tenho andado entretido, mas com outras coisas!



No copo: Café
No iPod: Rapariguinha do Shopping – Rui Veloso (fui meter de propósito, parece-me apropriado)